
A exposição “Mulheres que resistem à violência de Estado – ontem e hoje”, aberta no hall da Câmara Municipal de São Paulo desde o último dia 12, tornou-se centro de uma intensa polêmica nesta quarta-feira (21). A obra que provocou o debate é uma tela bordada, criada pela médica psiquiatra e artista Maria Goretti Vieira Mendonça, que exibe uma representação negra de Nossa Senhora das Dores acompanhada da frase “Marielle vive”.
Durante a sessão plenária, a vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil), coordenadora nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), levou uma imagem da tela ao pequeno expediente e acusou a obra de configurar intolerância religiosa. Para ela, a representação artística ofende a fé cristã por, segundo sua avaliação, sugerir uma equiparação entre Marielle Franco e uma santa. “É praticamente uma paródia da mãe de Deus. Eu, como católica, me senti extremamente ofendida. Marielle não foi santa. Quem diz quem é santo é a Igreja Católica, não o Psol, nem o PT, nem a esquerda”, afirmou.
A vereadora Luana Alves (Psol), que cedeu o espaço para a realização da exposição, rebateu a crítica e lembrou que Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em março de 2018, era católica. Luana também acusou Vettorazzo de desrespeitar tanto a memória de Marielle quanto a artista responsável pela obra.
A discussão foi interrompida pelo 1º vice-presidente da Casa, João Jorge (MDB), que ressaltou a ausência de direito a “aparte” naquele momento e chamou a próxima vereadora inscrita para a fala.
Na noite de quinta-feira (22), Amanda Vettorazzo formalizou um requerimento dirigido ao presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União Brasil), solicitando a retirada da exposição. Segundo ela, o pedido não visa censurar a arte, mas proteger símbolos religiosos. “O problema não está na exposição artística em si, mas no desrespeito à fé cristã ao usar um símbolo católico como meio de manifestação política e por descredibilizar a Santíssima Virgem Maria em uma paródia artística”, justificou.
A exposição segue aberta até o dia 26 de maio e busca, conforme a proposta da artista, narrar trajetórias de mulheres que enfrentaram a violência do Estado, ressaltando a ancestralidade negra e indígena, bem como a relação com a natureza e religiosidade. Além de Marielle Franco, são citadas na mostra figuras como a escritora Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”.
A controvérsia acontece em meio a um ambiente de acirradas disputas ideológicas na Câmara de São Paulo, que recentemente enfrentou a chamada “Guerra das Is”, responsável por paralisar as comissões legislativas. No mês ado, outra polêmica envolveu a vereadora Cris Monteiro (Novo), que declarou que “mulher branca, bonita e rica incomoda” durante uma discussão sobre o reajuste salarial dos servidores municipais.